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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Temor

Existe em nós um campo infinito de possibilidades cognitivas
que chegam nos chegam através de sentimentos e emoções,
um INCONSCIENTE EMOCIONAL COLETIVO.

sabemos de muitas coisas que não são realmente um conhecer
são mais propriamente um sentir indefinido, algo real, possível
mas que nunca nos aconteceu, algo que só vimos acontecer
ou que soubemos que aconteceu com outra pessoa
um "conhecimento televisivo" que torna a tragédia possível, provável.

nesse infindável oceano de pressentimentos 
está toda a história emocional da humanidade:
pesadelos, tragédias, histórias de horror e de atrocidades mil
dos feitos da humanidade e com a humanidade, 
naturais e sobrenaturais
conhecidos e desconhecidos.

o temor é irmão da angústia, primo do desespero
companheiro da indefinição
parente próximo e indesejado
do amor e da alegria.

Nessa canção de Chico Buarque de Holanda pode-se ver
ou melhor, pode-se pressentir
de que são feitos os temores, os pressentimentos:
de angústias não elaboradas, de sentimentos não estatísticos
suficientes para se tornarem em saberes emocionais
insuficientes para serem conhecimento pessoal, próprio,
racional.

No Inconsciente Emocional Coletivo estão as realidades possíveis
prováveis ou improváveis, infinitas
de um dos alicerces da realidade humana - o emocional
e pode estar também o fiel da balança - aquele que a fará pender
para um lado ou outro
na escolha eterna
das possibilidades
possíveis e prováveis.

Mulheres de Atenas
(Chico Buarque / Augusto Boal)

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem pro seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro se encolhem
Se confortam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.


Navegar nessas águas
longe de ser um tormento, um desespero,
é levar luz à escuridão desse tenebroso mar
é levar definição a essas águas turvas e agitadas.

Tornar possível e provável uma determinada realidade
passa por elaborar conscientemente
e com afeto
todas as possibilidades emocionais;

lançar um temeroso (e respeitoso) olhar
às angústias, temores e aflições
que nos afligem ainda
como realidades possíveis que são.

Tornar possível e provável uma determinada realidade
passa por considerar como válidos e reais esses pré sentimentos
validando assim um passado emocional -
que é o passado emocional de toda a humanidade terrestre -
e fazer escolhas diferentes
com outras possibilidades
tão possíveis e prováveis quanto.

Pré sentir é anterior ao sentir
que é anterior ao pensar
que é anterior ao fazer
que é anterior ao ser.

Ser a diferença
passa por fazer escolhas
que contenham a diferença que se quer ser.

VSO.

ATOS. 03 de Janeiro de 2018 Dc.



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Letra da Canção: 

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