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terça-feira, 28 de agosto de 2018

A Consciência e a Construção das Formas III

A alma humana se desenvolve como resultado de suas próprias escolhas individuais - uma consideração que fornece um exemplo notável de controles da humanidade sobre sua própria evolução. 

A alma pode se desenvolver na medida em que as prioridades do indivíduo se deslocam da natureza separativa inferior e suas necessidades para a natureza mais elevada e para uma gama mais ampla de necessidades: as da comunidade, da nação, e até mesmo da humanidade como um todo. A preocupação pode se estender para o ambiente natural e, eventualmente, para a totalidade da vida.



O desenvolvimento da consciência grupal é, talvez, o único fator mais importante que permite o surgimento da alma humana. 
A longa fase de individualismo separativo pode ter atrasado o surgimento da alma, mas criou a tensão necessária; e quando a consciência grupal finalmente se enraíza, a alma pode se desenvolver com relativa rapidez.




Assim como a personalidade, a alma humana é fundamentalmente uma forma de pensamento que emerge do próprio ser da pessoa, embora, neste caso, não seja criada exclusivamente ou mesmo principalmente pelo eu inferior. 

Novamente, como a personalidade, a alma ofusca seus veículos e evolui como um princípio organizador garantindo a coerência da consciência e da identidade. 

Mas, ao passo que a personalidade está focada em seus egoístas interesses próprios e se limita aos subplanos mentais inferiores e a uma única encarnação, a alma humana é consciente do grupo, tem maior alcance e poder, e - em termos de qualquer intervalo significativo de tempo - é eterna. 

Considerando que a personalidade tem tanto um lado escuro e um lado luminoso, a alma é um ser de luz.




A emergência da alma humana é acompanhada por mudanças nos átomos permanentes. Na medida em que a consciência é despertada em cada plano, o átomo permanente correspondente começa a irradiar luz - luz que jazia adormecida desde a descida primordial da centelha Monádica na matéria. Primeiro o átomo físico começa a irradiar, então o átomo astral, e, finalmente, a unidade mental no quarto subplano do plano mental. A luz irradiante atrai matéria de uma vibração mais elevada para cada átomo permanente, refinando os veículos e tornando-os mais receptivos à consciência superior. A luz da unidade mental, também atrai chitta, ou material mental, a partir da qual a alma humana está construída.




A alma humana emerge como resultado de escolhas feitas no nível da personalidade, em resposta ao apelo do Anjo solar. Mas, por sua vez a alma emergente pretende exercer a sua função de construção de forma a reconstruir a personalidade. A personalidade torna-se mais distinta, mais vital, e mais capaz de cumprir a sua missão nos três mundos. À medida que a alma humana emerge, o serviço deixa de ser uma obrigação onerosa e se torna instintiva.




"Serviço é uma demonstração da vida. É um impulso da alma e é tanto um impulso evolutivo da alma quanto o instinto da própria conservação ou da reprodução das espécies é uma demonstração da alma animal. Esta é uma declaração importante. É um instinto da alma, se nos permitem uma expressão tão inadequada e é, portanto, inato e peculiar ao desenvolvimento da alma. É a característica predominante da alma, exatamente como o desejo é a característica da natureza inferior." (11)




Assim, desenvolve-se uma estreita relação entre a alma humana e a personalidade, e então falamos da "personalidade fundida com a alma" ou "fusão alma-personalidade". Ambas referem-se ao influxo de elevadas energias e impressões na personalidade e, à transformação consequente na consciência e no comportamento. A personalidade é purificada e fortalecida. Nas palavras do Tibetano:




“A personalidade fundida com a alma ... passa a recriar seu ambiente e a cooperar conscientemente com o trabalho criativo da Hierarquia.” (12)




Esta cooperação pode se estender até à participação nos trabalhos do ashram de um Mestre. A intensidade e qualidade da luz que o discípulo irradia fornecem pistas importantes sobre se ele está pronto para o trabalho ashramico.

Humanismo como meio e Amor como fim



Erich Fromm defendia que além das necessidades básicas, relativas à sobrevivência física do ser humano, este também precisava atender a necessidades psíquicas. 

Neste sentido, uma dada sociedade poderia promover ou restringir os aspectos que compõem a saúde mental dos seus indivíduos, o que acabou por fortalecer as linhas de pensamento – como de quebra ocorre em toda a Sociologia da época – que não atribuem ao princípio da individualidade os marcadores para alcançar uma boa existência. 

Era preciso reconhecer o papel do estado e da sociedade, neste processo.

Desta forma Erich Fromm defendeu que o ser humano é moldado pela sociedade e, assim, ao contrário de Freud, o sociólogo afirma que a autoridade e os discursos de interditos – que formarão o superego dos filhos – não parte exclusivamente da autoridade do pai mas, antes, da sociedade, uma vez que as autoridades sociais representam em grande medida as qualidades do superego. 

Desta forma, se o ser humano estiver de acordo com as diretivas da sociedade, a possibilidade de conflito deste com as normas gerais é mínima; por outro lado, se este mesmo ser humano aderir ao princípio da liberdade – pressuposto em ascensão, já no final da Segunda Guerra –, em algum momento irá sofrer as consequências. 

Isso se dá a partir do desenvolvimento de neuroses, que impele o humano a não exteriorizar-se de modo espontâneo, sob pena de ver eclodir os complexos.

Estas falhas que impossibilitam uma vida o mais autêntica possível – no sentido de resgate de uma espontaneidade perdida com o histórico de interdições – são produzidas não apenas pela família, e sim pela cultura. 

Desta forma, o indivíduo acaba reprimindo muitos conteúdos para não correr o risco de ser marginalizado.

Esta é a tônica do humanismo de Fromm, que de quebra ainda levanta a hipótese de que o ser humano vive achatado entre duas polaridades, num movimento que parece invencível:

ao mesmo tempo em que busca restabelecer uma harmonia rompida com a natureza (no que Von-Franz caracteriza como a busca pelo paraíso perdido), por outro lado, o princípio da razão parece ser a via mais adequada para superar as limitações humanas. 

Depois de satisfeitas as necessidades primárias, toda a movimentação humana seguinte é no sentido de satisfazer suas necessidades existenciais. 

O amor, então, entra nesta perspectiva.

Erich Fromm defendeu que a união entre os seres humanos, pelo princípio do amor, é uma resposta potente para a questão elementar da humanidade, a ansiedade de separação e a solidão/angústia existencial. 

Neste sentido, o amor se torna uma necessidade psíquica básica do indivíduo, e deve ser trabalhado a partir dos mesmos pressupostos da arte, ou seja, tem que ser entendido, observado, treinado e executado, num movimento que engloba não apenas os sentimentos, mas também a razão (evitando assim as polaridades).

Desta forma o amor se configura, também, como uma necessidade da alma, pois possibilita a ligação do amante com ele mesmo, com o/a amado/a e com o mundo. 

Amar alguém, portanto, é uma boa possibilidade de amar o mundo, colocando-se no lugar do outro e desenvolvendo um olhar amoroso e compassivo para consigo e para com terceiros. 

Então, por este percurso, o amor se apresenta como um antídoto contra o narcisismo secundário, em que o sujeito não conseguiu superar o narcisismo infantil e passa a identificar no outro e no ambiente apenas dispositivos para satisfação de seus desejos (ainda infantis). Narcisistas, neste aspecto, trabalham incansavelmente para imprimir uma relação de poder sobre o ambiente. 

Isto não poderia ocorrer no amor maduro de que fala Fromm (Jung também defendia que poder e amor são conceitos/práticas opostos/as), o que se diferencia radicalmente do princípio do amor, cuja ligação entre os indivíduos é pautada pelo princípio da cooperação mútua.

Esta talvez tenha sido uma das maiores contribuições de Erich Fromm, que morreu em 1980, aos 79 anos, na região suíça de Muralto. 

Fromm imortalizou sua obra ao defender que o amor é o único remédio capaz de fazer com que o ser humano cure suas feridas existenciais, sobretudo em relação aos sentimentos de isolamento e solidão para que, assim, pudesse se lançar no mundo – tanto a partir do princípio da razão, quanto pelo prisma da emoção e da alteridade.



Personalidade e Individualidade


Disse Carl Gustav Jung:

"Quanto mais retrocedermos na história, 
tanto mais veremos a personalidade desaparecendo 
sob o manto da coletividade. 
E quando chegamos à psicologia primitiva, 
nem vestígios encontramos do conceito de indivíduo. 
Em vez de individualidade, só acharemos 
relacionamento coletivo ou "participação mística" (participation mystique). 
Esta atitude coletiva impede o reconhecimento e a valorização de uma psicologia diferente da do sujeito, 
pois a mente, orientada coletivamente, 
é totalmente incapaz de pensar e sentir 
de outra forma que não seja por projeção. 
O que entendemos sob o conceito de "indivíduo" 
é uma aquisição relativamente nova na história 
do pensamento e cultura humanos."

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A Consciência e a Construção das Formas II

A alma humana permite à humanidade expressar o princípio de manas, ou mente; e vemos o florescimento deste princípio na medida em que a alma se aproxima da maturidade. 
A alma torna-se o "pensador", o "Filho da Mente" mediador entre a mente inferior da personalidade e a mente superior da Tríade espiritual. 

A mente, "o grande fator de divisão", transmuta-se na personificação da Unidade e Amor.

Mas, a maturação da alma é o produto final de um longo processo de evolução. (...)

Alma Humana Embrionária

A alma humana foi o produto da individualização Monádica, mas não nasceu totalmente formada e operativa, no instante da individualização. 

Manas, o próprio fator que distingue o homem dos animais foi lento para se desenvolver.
De fato, foi o inesperado - até mesmo decepcionante - lento desenvolvimento da mente que levou o Logos planetário a invocar os Anjos solares durante a terceira raça raiz para nutrir e vivificar a humanidade incipiente. 

O anjo solar é conhecido, em várias tradições ocultistas, como a Alma ou Ego (ambos com letras maiúsculas), Anjo da Presença, Santo Anjo da Guarda, Genius Superior, ou Manasaputra. (...)

Na época Lemuriana, a alma humana só existia em estado latente, e os Anjos solares foram trazidos como sub-rogados para desempenhar as funções de construção de formas necessárias. 

Durante milhões de anos os Anjos harmonizaram a longa sequência de encarnações humanas sob seus encargos, prestando atenção às limitações cármicas, necessidades evolutivas e quaisquer vínculos significativos de relacionamento que houvessem desenvolvido.

Enquanto isso, a alma animal continuou a exercer um papel dominante, e as formas humanas se assemelhavam às do terceiro reino, tanto na aparência como na capacidade. 

O homem pode ter sido individualizado, mas foi muito lento a manifestar características que o distinguiria, quer de seus antepassados animais ou de seus companheiros. Até mesmo nos tempos da Atlântida. 

O Tibetano nos diz:

"A alma não era então tão individualizada como é agora. 
A alma animal controlada e, consequentemente, o completo contacto com a anima mundi era o fator dominante. 

À medida que o tempo foi decorrendo, a alma se tornou mais individualizada em cada ser humano e mais e mais separativa, à medida que o aspecto mente ... foi adquirindo o domínio." (7)

Encarnações sucessivas proveram as experiências de aprendizagem necessárias para o desenvolvimento gradual de manas e para a expansão concomitante da consciência.

No entanto, não havia continuidade de consciência de uma encarnação para a próxima, e isto apresentava um problema: onde poderia ser armazenada a experiência acumulada de vidas sucessivas? 

O problema não existia nos reinos inferiores, pois a pluralidade de formas físicas, geradas por uma única Mônada, garantiu que a ligação entre espírito e matéria permanecesse intacta. Quando um membro de uma espécie morria, sua experiência passava para a alma grupal para fermentar futuros membros. 

Mas, com apenas uma forma humana em manifestação de uma vez, e a Mônada ainda não despertada, tudo podia ser perdido quando a forma morresse.

A solução para o homem individualizado estava nos átomos permanentes, os pequenos centros de força (...) atados ao corpo causal. (...)

O corpo causal e seus três centros de força sobrevivem à morte física, e estes últimos servem como núcleos em torno dos quais novos veículos físicos, astral e mental podem ser construídos no início da próxima encarnação.

Em torno da unidade mental, uma alma humana também vai tomar forma, mas antes que isso aconteça, o indivíduo deve desenvolver uma personalidade bem definida e elevar a sua vibração a um nível adequado.

A Consciência e a Construção das Formas I

A alma, nos diz o Tibetano, “é aquela entidade que é trazida à existência quando o aspecto espírito e o aspecto matéria se relacionam reciprocamente.” (1)

É uma expressão do segundo aspecto da Divindade, o princípio de mediação entre espírito e matéria, o aspecto de construção de forma desse processo impressionante através do qual o Logos desce à manifestação. Aprendemos que "em todo o universo, a alma é o tema consciente e sensível do plano divino”. (2) 

Tudo tem uma alma: desde uma rocha, árvore, cavalo, e o ser humano, tudo, até um planeta e mais além. No nível mais rudimentar do reino mineral, a alma é "o fator sensível na própria substância"; nos reinos mais elevados ela expressa a consciência, à medida que mais comumente a compreendemos.

A alma dá à forma suas características especiais, de modo que a árvore seja diferente da pedra e do cavalo, e o carvalho seja diferente do olmo. A alma assegura que a semente se desenvolva em um broto, um rebento, e em uma árvore madura capaz de se propagar; assegura que as raízes da árvore penetrem no solo e seus ramos cheguem até o céu, dando folhas e frutos. Em cada reino é a alma

“... que traz a forma à existência, que capacita a desenvolver e crescer de modo a acomodar mais adequadamente a vida que a habita e que conduz para diante todas as criaturas de Deus no caminho da evolução, reino após reino, em direção a um objetivo e uma gloriosa consumação.” (3)

Falamos das almas minerais, das almas vegetais e das almas animais que são responsáveis pela construção das formas de seus respectivos reinos, dando-lhes a consciência senciente, e fornecendo "inata faculdade ... que produz a inegável inteligente atividade que todos demonstram”. (4) 

Essas almas não estão individualizadas e participam na alma coletiva maior que anima o planeta: "a anima mundi ou a alma do mundo, o lado subjetivo de todas as formas nos três mundos, de todos os corpos nos quatro reinos da natureza". (5) Os "três mundos" são os planos físico, emocional e mental: os planos da existência objetiva terrena.

Como seres humanos em encarnação física compartilhamos formas e suas almas associadas, com os reinos inferiores. Temos também, in potentia ou na realidade, as almas humanas, cuja missão é construir as formas mais especializadas necessárias para nutrir a vida que habita em nós, a dar-nos as nossas qualidades distintivas, e dirigir-nos para frente ao longo do nosso próprio caminho de evoluçãoEsta alma humana é de uma ordem mais elevada do que os seus homólogos mais inferiores por causa da relação especial entre a Mônada humana e as suas formas.

A individualização não só ajustou a experiência evolutiva humana para além dos reinos inferiores, mas também condicionou a natureza, função e os objetivos da alma humana. 

Embora a alma mineral, vegetal ou animal seja um princípio indiferenciado de construção de forma, a alma humana é diferenciada e tem o potencial de existência autônoma como uma entidade, que expressa não só a consciência, mas a autoconsciência.

A alma humana permite à humanidade expressar o princípio de manas, ou mente; e vemos o florescimento deste princípio na medida em que a alma se aproxima da maturidade.