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terça-feira, 28 de agosto de 2018

A Consciência e a Construção das Formas III

A alma humana se desenvolve como resultado de suas próprias escolhas individuais - uma consideração que fornece um exemplo notável de controles da humanidade sobre sua própria evolução. 

A alma pode se desenvolver na medida em que as prioridades do indivíduo se deslocam da natureza separativa inferior e suas necessidades para a natureza mais elevada e para uma gama mais ampla de necessidades: as da comunidade, da nação, e até mesmo da humanidade como um todo. A preocupação pode se estender para o ambiente natural e, eventualmente, para a totalidade da vida.



O desenvolvimento da consciência grupal é, talvez, o único fator mais importante que permite o surgimento da alma humana. 
A longa fase de individualismo separativo pode ter atrasado o surgimento da alma, mas criou a tensão necessária; e quando a consciência grupal finalmente se enraíza, a alma pode se desenvolver com relativa rapidez.




Assim como a personalidade, a alma humana é fundamentalmente uma forma de pensamento que emerge do próprio ser da pessoa, embora, neste caso, não seja criada exclusivamente ou mesmo principalmente pelo eu inferior. 

Novamente, como a personalidade, a alma ofusca seus veículos e evolui como um princípio organizador garantindo a coerência da consciência e da identidade. 

Mas, ao passo que a personalidade está focada em seus egoístas interesses próprios e se limita aos subplanos mentais inferiores e a uma única encarnação, a alma humana é consciente do grupo, tem maior alcance e poder, e - em termos de qualquer intervalo significativo de tempo - é eterna. 

Considerando que a personalidade tem tanto um lado escuro e um lado luminoso, a alma é um ser de luz.




A emergência da alma humana é acompanhada por mudanças nos átomos permanentes. Na medida em que a consciência é despertada em cada plano, o átomo permanente correspondente começa a irradiar luz - luz que jazia adormecida desde a descida primordial da centelha Monádica na matéria. Primeiro o átomo físico começa a irradiar, então o átomo astral, e, finalmente, a unidade mental no quarto subplano do plano mental. A luz irradiante atrai matéria de uma vibração mais elevada para cada átomo permanente, refinando os veículos e tornando-os mais receptivos à consciência superior. A luz da unidade mental, também atrai chitta, ou material mental, a partir da qual a alma humana está construída.




A alma humana emerge como resultado de escolhas feitas no nível da personalidade, em resposta ao apelo do Anjo solar. Mas, por sua vez a alma emergente pretende exercer a sua função de construção de forma a reconstruir a personalidade. A personalidade torna-se mais distinta, mais vital, e mais capaz de cumprir a sua missão nos três mundos. À medida que a alma humana emerge, o serviço deixa de ser uma obrigação onerosa e se torna instintiva.




"Serviço é uma demonstração da vida. É um impulso da alma e é tanto um impulso evolutivo da alma quanto o instinto da própria conservação ou da reprodução das espécies é uma demonstração da alma animal. Esta é uma declaração importante. É um instinto da alma, se nos permitem uma expressão tão inadequada e é, portanto, inato e peculiar ao desenvolvimento da alma. É a característica predominante da alma, exatamente como o desejo é a característica da natureza inferior." (11)




Assim, desenvolve-se uma estreita relação entre a alma humana e a personalidade, e então falamos da "personalidade fundida com a alma" ou "fusão alma-personalidade". Ambas referem-se ao influxo de elevadas energias e impressões na personalidade e, à transformação consequente na consciência e no comportamento. A personalidade é purificada e fortalecida. Nas palavras do Tibetano:




“A personalidade fundida com a alma ... passa a recriar seu ambiente e a cooperar conscientemente com o trabalho criativo da Hierarquia.” (12)




Esta cooperação pode se estender até à participação nos trabalhos do ashram de um Mestre. A intensidade e qualidade da luz que o discípulo irradia fornecem pistas importantes sobre se ele está pronto para o trabalho ashramico.

Humanismo como meio e Amor como fim



Erich Fromm defendia que além das necessidades básicas, relativas à sobrevivência física do ser humano, este também precisava atender a necessidades psíquicas. 

Neste sentido, uma dada sociedade poderia promover ou restringir os aspectos que compõem a saúde mental dos seus indivíduos, o que acabou por fortalecer as linhas de pensamento – como de quebra ocorre em toda a Sociologia da época – que não atribuem ao princípio da individualidade os marcadores para alcançar uma boa existência. 

Era preciso reconhecer o papel do estado e da sociedade, neste processo.

Desta forma Erich Fromm defendeu que o ser humano é moldado pela sociedade e, assim, ao contrário de Freud, o sociólogo afirma que a autoridade e os discursos de interditos – que formarão o superego dos filhos – não parte exclusivamente da autoridade do pai mas, antes, da sociedade, uma vez que as autoridades sociais representam em grande medida as qualidades do superego. 

Desta forma, se o ser humano estiver de acordo com as diretivas da sociedade, a possibilidade de conflito deste com as normas gerais é mínima; por outro lado, se este mesmo ser humano aderir ao princípio da liberdade – pressuposto em ascensão, já no final da Segunda Guerra –, em algum momento irá sofrer as consequências. 

Isso se dá a partir do desenvolvimento de neuroses, que impele o humano a não exteriorizar-se de modo espontâneo, sob pena de ver eclodir os complexos.

Estas falhas que impossibilitam uma vida o mais autêntica possível – no sentido de resgate de uma espontaneidade perdida com o histórico de interdições – são produzidas não apenas pela família, e sim pela cultura. 

Desta forma, o indivíduo acaba reprimindo muitos conteúdos para não correr o risco de ser marginalizado.

Esta é a tônica do humanismo de Fromm, que de quebra ainda levanta a hipótese de que o ser humano vive achatado entre duas polaridades, num movimento que parece invencível:

ao mesmo tempo em que busca restabelecer uma harmonia rompida com a natureza (no que Von-Franz caracteriza como a busca pelo paraíso perdido), por outro lado, o princípio da razão parece ser a via mais adequada para superar as limitações humanas. 

Depois de satisfeitas as necessidades primárias, toda a movimentação humana seguinte é no sentido de satisfazer suas necessidades existenciais. 

O amor, então, entra nesta perspectiva.

Erich Fromm defendeu que a união entre os seres humanos, pelo princípio do amor, é uma resposta potente para a questão elementar da humanidade, a ansiedade de separação e a solidão/angústia existencial. 

Neste sentido, o amor se torna uma necessidade psíquica básica do indivíduo, e deve ser trabalhado a partir dos mesmos pressupostos da arte, ou seja, tem que ser entendido, observado, treinado e executado, num movimento que engloba não apenas os sentimentos, mas também a razão (evitando assim as polaridades).

Desta forma o amor se configura, também, como uma necessidade da alma, pois possibilita a ligação do amante com ele mesmo, com o/a amado/a e com o mundo. 

Amar alguém, portanto, é uma boa possibilidade de amar o mundo, colocando-se no lugar do outro e desenvolvendo um olhar amoroso e compassivo para consigo e para com terceiros. 

Então, por este percurso, o amor se apresenta como um antídoto contra o narcisismo secundário, em que o sujeito não conseguiu superar o narcisismo infantil e passa a identificar no outro e no ambiente apenas dispositivos para satisfação de seus desejos (ainda infantis). Narcisistas, neste aspecto, trabalham incansavelmente para imprimir uma relação de poder sobre o ambiente. 

Isto não poderia ocorrer no amor maduro de que fala Fromm (Jung também defendia que poder e amor são conceitos/práticas opostos/as), o que se diferencia radicalmente do princípio do amor, cuja ligação entre os indivíduos é pautada pelo princípio da cooperação mútua.

Esta talvez tenha sido uma das maiores contribuições de Erich Fromm, que morreu em 1980, aos 79 anos, na região suíça de Muralto. 

Fromm imortalizou sua obra ao defender que o amor é o único remédio capaz de fazer com que o ser humano cure suas feridas existenciais, sobretudo em relação aos sentimentos de isolamento e solidão para que, assim, pudesse se lançar no mundo – tanto a partir do princípio da razão, quanto pelo prisma da emoção e da alteridade.



Personalidade e Individualidade


Disse Carl Gustav Jung:

"Quanto mais retrocedermos na história, 
tanto mais veremos a personalidade desaparecendo 
sob o manto da coletividade. 
E quando chegamos à psicologia primitiva, 
nem vestígios encontramos do conceito de indivíduo. 
Em vez de individualidade, só acharemos 
relacionamento coletivo ou "participação mística" (participation mystique). 
Esta atitude coletiva impede o reconhecimento e a valorização de uma psicologia diferente da do sujeito, 
pois a mente, orientada coletivamente, 
é totalmente incapaz de pensar e sentir 
de outra forma que não seja por projeção. 
O que entendemos sob o conceito de "indivíduo" 
é uma aquisição relativamente nova na história 
do pensamento e cultura humanos."

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A Consciência e a Construção das Formas II

A alma humana permite à humanidade expressar o princípio de manas, ou mente; e vemos o florescimento deste princípio na medida em que a alma se aproxima da maturidade. 
A alma torna-se o "pensador", o "Filho da Mente" mediador entre a mente inferior da personalidade e a mente superior da Tríade espiritual. 

A mente, "o grande fator de divisão", transmuta-se na personificação da Unidade e Amor.

Mas, a maturação da alma é o produto final de um longo processo de evolução. (...)

Alma Humana Embrionária

A alma humana foi o produto da individualização Monádica, mas não nasceu totalmente formada e operativa, no instante da individualização. 

Manas, o próprio fator que distingue o homem dos animais foi lento para se desenvolver.
De fato, foi o inesperado - até mesmo decepcionante - lento desenvolvimento da mente que levou o Logos planetário a invocar os Anjos solares durante a terceira raça raiz para nutrir e vivificar a humanidade incipiente. 

O anjo solar é conhecido, em várias tradições ocultistas, como a Alma ou Ego (ambos com letras maiúsculas), Anjo da Presença, Santo Anjo da Guarda, Genius Superior, ou Manasaputra. (...)

Na época Lemuriana, a alma humana só existia em estado latente, e os Anjos solares foram trazidos como sub-rogados para desempenhar as funções de construção de formas necessárias. 

Durante milhões de anos os Anjos harmonizaram a longa sequência de encarnações humanas sob seus encargos, prestando atenção às limitações cármicas, necessidades evolutivas e quaisquer vínculos significativos de relacionamento que houvessem desenvolvido.

Enquanto isso, a alma animal continuou a exercer um papel dominante, e as formas humanas se assemelhavam às do terceiro reino, tanto na aparência como na capacidade. 

O homem pode ter sido individualizado, mas foi muito lento a manifestar características que o distinguiria, quer de seus antepassados animais ou de seus companheiros. Até mesmo nos tempos da Atlântida. 

O Tibetano nos diz:

"A alma não era então tão individualizada como é agora. 
A alma animal controlada e, consequentemente, o completo contacto com a anima mundi era o fator dominante. 

À medida que o tempo foi decorrendo, a alma se tornou mais individualizada em cada ser humano e mais e mais separativa, à medida que o aspecto mente ... foi adquirindo o domínio." (7)

Encarnações sucessivas proveram as experiências de aprendizagem necessárias para o desenvolvimento gradual de manas e para a expansão concomitante da consciência.

No entanto, não havia continuidade de consciência de uma encarnação para a próxima, e isto apresentava um problema: onde poderia ser armazenada a experiência acumulada de vidas sucessivas? 

O problema não existia nos reinos inferiores, pois a pluralidade de formas físicas, geradas por uma única Mônada, garantiu que a ligação entre espírito e matéria permanecesse intacta. Quando um membro de uma espécie morria, sua experiência passava para a alma grupal para fermentar futuros membros. 

Mas, com apenas uma forma humana em manifestação de uma vez, e a Mônada ainda não despertada, tudo podia ser perdido quando a forma morresse.

A solução para o homem individualizado estava nos átomos permanentes, os pequenos centros de força (...) atados ao corpo causal. (...)

O corpo causal e seus três centros de força sobrevivem à morte física, e estes últimos servem como núcleos em torno dos quais novos veículos físicos, astral e mental podem ser construídos no início da próxima encarnação.

Em torno da unidade mental, uma alma humana também vai tomar forma, mas antes que isso aconteça, o indivíduo deve desenvolver uma personalidade bem definida e elevar a sua vibração a um nível adequado.

A Consciência e a Construção das Formas I

A alma, nos diz o Tibetano, “é aquela entidade que é trazida à existência quando o aspecto espírito e o aspecto matéria se relacionam reciprocamente.” (1)

É uma expressão do segundo aspecto da Divindade, o princípio de mediação entre espírito e matéria, o aspecto de construção de forma desse processo impressionante através do qual o Logos desce à manifestação. Aprendemos que "em todo o universo, a alma é o tema consciente e sensível do plano divino”. (2) 

Tudo tem uma alma: desde uma rocha, árvore, cavalo, e o ser humano, tudo, até um planeta e mais além. No nível mais rudimentar do reino mineral, a alma é "o fator sensível na própria substância"; nos reinos mais elevados ela expressa a consciência, à medida que mais comumente a compreendemos.

A alma dá à forma suas características especiais, de modo que a árvore seja diferente da pedra e do cavalo, e o carvalho seja diferente do olmo. A alma assegura que a semente se desenvolva em um broto, um rebento, e em uma árvore madura capaz de se propagar; assegura que as raízes da árvore penetrem no solo e seus ramos cheguem até o céu, dando folhas e frutos. Em cada reino é a alma

“... que traz a forma à existência, que capacita a desenvolver e crescer de modo a acomodar mais adequadamente a vida que a habita e que conduz para diante todas as criaturas de Deus no caminho da evolução, reino após reino, em direção a um objetivo e uma gloriosa consumação.” (3)

Falamos das almas minerais, das almas vegetais e das almas animais que são responsáveis pela construção das formas de seus respectivos reinos, dando-lhes a consciência senciente, e fornecendo "inata faculdade ... que produz a inegável inteligente atividade que todos demonstram”. (4) 

Essas almas não estão individualizadas e participam na alma coletiva maior que anima o planeta: "a anima mundi ou a alma do mundo, o lado subjetivo de todas as formas nos três mundos, de todos os corpos nos quatro reinos da natureza". (5) Os "três mundos" são os planos físico, emocional e mental: os planos da existência objetiva terrena.

Como seres humanos em encarnação física compartilhamos formas e suas almas associadas, com os reinos inferiores. Temos também, in potentia ou na realidade, as almas humanas, cuja missão é construir as formas mais especializadas necessárias para nutrir a vida que habita em nós, a dar-nos as nossas qualidades distintivas, e dirigir-nos para frente ao longo do nosso próprio caminho de evoluçãoEsta alma humana é de uma ordem mais elevada do que os seus homólogos mais inferiores por causa da relação especial entre a Mônada humana e as suas formas.

A individualização não só ajustou a experiência evolutiva humana para além dos reinos inferiores, mas também condicionou a natureza, função e os objetivos da alma humana. 

Embora a alma mineral, vegetal ou animal seja um princípio indiferenciado de construção de forma, a alma humana é diferenciada e tem o potencial de existência autônoma como uma entidade, que expressa não só a consciência, mas a autoconsciência.

A alma humana permite à humanidade expressar o princípio de manas, ou mente; e vemos o florescimento deste princípio na medida em que a alma se aproxima da maturidade. 

quarta-feira, 20 de junho de 2018

O Dicionário de Tristezas Obscuras

The Dictionary of Obscure Sorrows é um compêndio de palavras inventadas escrito por John Koenig.  Cada definição original tem como objetivo preencher um buraco na linguagem - dar um nome às emoções que todos nós podemos experimentar mas ainda não temos uma palavra para elas.



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The Dictionary Of Obscure Sorrows: 
Pela Falta De Um Mundo Melhor


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Sonder
 A Realização De Que Todo Mundo Tem Uma História



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Alazia: 
O Medo De Que Você Não É Mais Capaz De Mudar 




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Koinophobia: 
O Medo De Que Você Tenha Vivido Uma Vida Comum



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Avenoir: 
O Desejo de Ver As Memórias Com Antecedência



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Yù Yī : 
O Desejo De Sentir Intensamente Novamente



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Opia: 
A Intensidade Ambígua do Contato Visual



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Zenosyne: 
O Sentido De Que O Tempo Continua Passando Rápido



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Olēka: 
A Consciência De Que Poucos Dias São Memoráveis



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Astrophe: 
O Sentimento De Estar Preso Na Terra



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Dès Vu: 
A Consciência De Que Isso Se Torne Uma Memória



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Socha: 
A Vulnerabilidade Oculta Dos Outros



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Ambedo: 
A Realização De Um Momento Por Sua Própria Conta



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Lachesism: 
Desejando A Clareza Do Desastre



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Anemoia: 
Nostalgia Por Um Tempo Que Você Nunca Conheceu



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Kenopsia: 
A Estranheza Dos Lugares Deixados Para Trás



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Morii: 
O Desejo de Captar uma Experiência Fugaz



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Lutalica: 
A Parte Da Sua Identidade Que Não Se Encaixa Em Categorias



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Moment Of Tangency: 
Um vislumbre do que poderia ter sido



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Onism: 
A Consciência De Quão Pouco Do Mundo Você Vai Experimentar



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Silience: 
A Reluzente Arte Escondida Ao Seu Redor



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Vemödalen: 
O Medo De Que Tudo já Tenha Sido Feito



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Nodus Tollens: 
Quando Sua vida não se Encaixa Em Uma História



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Klexos: 
A Arte de Habitar No Passado



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Ballagàrraidh: 
A Consciência De Que Você Não Está Em Casa Na Natureza Selvagem 



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Kudoclasm: 
Quando Sonhos Vitalícios Caem Por Terra



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Pâro: 
O Sentimento de que tudo o que você faz é de alguma forma errado



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Keta:
Uma Imagem Que Inexplicavelmente Retorna À Sua Mente Do Passado Distante.



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A conquista de novas palavras

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Exaustão emocional, a consequência de tentar ser forte a todo momento

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A exaustão emocional é um estado atingido pela sobrecarga de esforço. Neste caso, não falamos apenas de excessos de trabalho, mas também de assumir conflitos, responsabilidades ou estímulos emocionais ou cognitivos.

A exaustão emocional não vem de um momento para outro. Trata-se de um processo que ocorre lentamente, até que haja um ponto em que a pessoa entra em colapso. Essa quebra a submerge em paralisia, depressão profunda ou doença crônica. Ocorre um colapso na vida da pessoa, porque ela literalmente já não aguenta mais.

“Nada pesa tanto quanto o coração quando está cansado”.

- José de San Martín -



Embora a exaustão emocional seja sentida como cansaço mental, geralmente está acompanhada de uma grande fadiga física. Quando isso acontece, há uma sensação de peso, de incapacidade de seguir em frente. Caímos, então, em uma inércia da qual é difícil sair.




As causas do esgotamento emocional

O esgotamento emocional se origina porque há um desequilíbrio entre o que damos e o que recebemos. Aqueles que são vítimas disso dão tudo o que podem de si mesmos, seja no trabalho, em casa, no relacionamento ou em qualquer área.

Em geral, isso ocorre em áreas onde há uma grande exigência, que por sua vez, aparentemente, exige grandes sacrifícios. Por exemplo, em um trabalho onde há um alto risco de demissão. Ou em uma casa cujos membros estão cheios de problemas e exigem atenção. Também quando temos um relacionamento conflituoso ou com sérias dificuldades.

O comum é que a pessoa exausta não tenha tempo para si mesma. Tampouco recebe reconhecimento, carinho ou consideração suficiente. Espera-se que ela se “renda” o tempo todo. Como se não tivesse necessidades, ou como se fosse mais forte que o resto e pudesse aguentar tudo.

Os primeiros sintomas de exaustão

Antes que apareça a exaustão emocional propriamente dita, há algumas indicações que a anunciam. São sinais aos quais, em geral, não são dados muita importância. Se os notarmos, as medidas podem ser tomadas a tempo.

Os sintomas iniciais da exaustão emocional são:

Cansaço físico. A pessoa se sente cansada com frequência. A partir do momento em que abre os olhos, sente como se fosse extremamente árduo o que a espera no dia.

Insônia. Por mais contraditório que pareça, uma pessoa com exaustão emocional apresenta dificuldade para dormir. Sempre tem problemas aos quais dedica tempo demais e que fazem com que seja difícil pegar no sono.

Irritabilidade. Há desconforto e perda de autocontrole com certa frequência. A pessoa exausta parece mal-humorada e é muito sensível a qualquer crítica ou gesto de desaprovação.

Falta de motivação. Quem sofre de exaustão emocional começa a agir mecanicamente. Como se fosse obrigado a fazer o que faz o tempo todo. Não tem entusiasmo ou interesse em suas atividades.

Distanciamento afetivo. As emoções começam a ficar cada vez mais planas. É como se, na verdade, a pessoa não sentisse praticamente nada.

Esquecimentos frequentes. A saturação de informações e/ou estímulos leva a falhas na memória. Esquecem com facilidade as pequenas coisas.

Dificuldades para pensar. A pessoa se sente confusa com facilidade. Cada atividade implica um gasto maior de tempo do que antes. Raciocina lentamente.


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As saídas para a exaustão emocional

A melhor maneira de superar a exaustão emocional é, naturalmente, descansando. Você tem que encontrar tempo livre para relaxar e ficar calmo. As pessoas que se exigem muito passam anos sem, por exemplo, tirar férias. Isso não pode acontecer. Mais cedo ou mais tarde, só leva à fadiga. Então, uma boa ideia é tirar alguns dias para dedicar ao descanso.

Outra solução é trabalhar para construir uma atitude diferente diante das obrigações diárias. Cada dia deve incluir horários para dedicar aos compromissos e também momentos para descansar e realizar atividades que sejam gratificantes. Devemos deixar de lado as obsessões de perfeição ou realização.

Finalmente, é muito importante nos sensibilizarmos com nós mesmos. Para isso, nada melhor do que dedicar um momento a cada dia para ficarmos sozinhos. Respirar, nos reconectar com o que somos e com o que desejamos. É fundamental desenvolver uma atitude de compreensão e bondade com nós mesmos. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde, será impossível seguir adiante.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa




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quarta-feira, 13 de junho de 2018

Tênis x Frescobol - Rubem Alves

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“Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:

Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: “Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?”. Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “Eu te amo, eu te amo…”. Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir… E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos…

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá…
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:

Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: “Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo”. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: “Tens razão, minha querida”. A situação está salva e o ódio vai aumentando.

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão… O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor… Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim…”

https://www.asomadetodosafetos.com


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quarta-feira, 30 de maio de 2018

VIVENDO A NOVA REALIDADE - James Redfield

Podemos, portanto, enxergar o quadro mais amplo oferecido pela nova ciência. Agora, quando nos postamos em nosso jardim ou passeamos pelo parque admirando a paisagem num belo dia de sol, devemos ver um mundo novo. Não podemos mais pensar que o universo que habitamos está se expandindo em todas as direções até o infinito; sabemos que o universo é fisicamente infinito, mas curvado de uma forma que o torna limitado e finito. Vivemos dentro de uma bolha de espaço/tempo e, como os físicos que pesquisam o hiperespaço, intuímos outras dimensões. E quando olhamos em volta, para as formas dentro deste universo, já não
podemos ver matéria sólida, mas substância energética. Tudo nada mais é do que um campo de energia, de luz, todas as coisas interagindo e influenciando-se mutuamente — inclusive nós mesmos.

Na verdade, a maioria dessas descrições da nova realidade já foi confirmada pela nossa própria experiência. Todos nós temos, por exemplo, momentos em que podemos constatar que outras pessoas captaram nossos pensamentos, ou ocasiões em que sabemos o que outra pessoa sente ou está prestes a dizer. De modo semelhante, vivemos situações em que sabemos que alguma coisa está prestes a acontecer ou poderia potencialmente acontecer, e essas premonições muitas vezes são acompanhadas por pressentimentos que nos dizem aonde deveríamos ir ou aquilo que deveríamos fazer, para estarmos no lugar certo, na hora exata. O mais significativo é que sabemos que a nossa atitude e a nossa intenção a respeito das outras pessoas são extremamente importantes. Como veremos mais tarde, quando pensamos positivamente, nos elevamos e elevamos os outros, e acontecimentos incríveis começam a ter lugar.

O nosso desafio é colocar tudo isso em prática cotidianamente, integrado à nossa vida diária. Vivemos num universo inteligente, de energia dinâmica, que nos responde, no qual as expectativas e teorias das outras pessoas irradiam-se delas para nos influenciar.

O próximo passo, portanto, em nossa viagem em direção a uma vida com uma nova consciência espiritual é ver o mundo humano de energia, expectativa e drama como ele realmente é, e aprender a lidar com esse mundo de maneira mais eficaz.

A Visão Celestina - James Redfield


Capa

COMPREENDENDO ONDE ESTAMOS - James Redfield

A SOLUÇÃO DO ILUMINISMO

Chegamos agora a outro ponto crucial na formação da visão moderna do mundo. Tínhamos apelado para a ciência para a descoberta de respostas para as nossas maiores perguntas existenciais e espirituais, mas a ciência tornou-se consumida por um enfoque puramente laico e materialista. Quem poderia dizer quanto tempo ela demoraria para descobrir o sentido mais elevado da vida humana?

Era evidente que nós, ocidentais, precisávamos de um novo sentido, um novo estado de espírito a que pudéssemos nos agarrar nesse ínterim — e, mais importante, que ocupasse a nossa mente. E parece que nesse momento a decisão coletiva foi levar a nossa atenção totalmente para o mundo físico, assim como a ciência estava fazendo. Afinal, a ciência estava descobrindo um rico tesouro de recursos naturais à nossa disposição — e podíamos usar esses recursos para melhorar nossa situação econômica, para conseguirmos mais conforto nesse mundo material. Poderíamos ter que esperar pelo conhecimento a respeito da nossa verdadeira
situação espiritual, mas, enquanto esperávamos, poderíamos conseguir mais segurança material. A nossa nova filosofia, embora temporária, era um passo à frente no progresso humano, um compromisso com o aperfeiçoamento da nossa vida e da vida de nossos filhos.

Essa nova filosofia, no mínimo, nos tranquilizava. A carga de trabalho nos mantinha ocupados, afastando a nossa atenção do fato de que o mistério da morte, portanto o da própria vida, ainda se mostrava enorme e inexplicado. Algum dia, no final da nossa existência terrena, teríamos que enfrentar as realidades espirituais, fossem elas quais fossem. Enquanto isso, porém, limitávamos nosso enfoque aos problemas da existência material cotidiana e
tentávamos fazer do próprio progresso, tanto pessoal quanto coletivo, a única razão para a nossa curta vida. E essa se tornou a postura psicológica no início da era moderna.

Basta uma olhadela rápida no final do século XX para vermos os grandiosos resultados desse enfoque restrito ao progresso material. Em poucos séculos, exploramos o mundo, fundamos nações e criamos um imenso sistema de comércio global. Além disso, cientistas venceram doenças, desenvolveram fantásticas formas de comunicação e mandaram homens à Lua.

No entanto, todas essas conquistas tiveram um preço alto. Pelo progresso, nós exploramos o meio ambiente quase ao ponto da sua destruição. E pessoalmente podemos perceber que, em certo ponto, o nosso enfoque nos aspectos econômicos da vida tornou-se
uma obsessão, usada para afastar a ansiedade da incerteza. Fizemos da vida material e do progresso dirigido pela nossa lógica a única realidade que permitíamos entrar em nossa mente.

Finalmente, em meados do século XX, a cultura ocidental começou a despertar dessa preocupação. Paramos para olhar em volta e começamos a compreender o nosso lugar na História. Ernest Becker ganhou um Prêmio Pulitzer por seu livro The Denial of Death porque mostrou claramente o que o mundo moderno tinha feito a si mesmo psicologicamente. Nós tínhamos limitado nosso enfoque à economia material e, durante todo esse tempo, nos
recusamos a aceitar a idéia de uma experiência espiritual mais profunda, porque não queríamos que nos lembrassem o grande mistério que é esta vida.

Acredito que é por isso que as pessoas mais velhas eram abandonadas em sanatórios: elas nos lembravam aquilo que tínhamos empurrado para longe da nossa consciência. A necessidade de nos esconder do mistério que nos aterrorizava é também a razão por que o nosso senso comum acha tão estranha a crença num universo onde a sincronicidade e outras capacidades intuitivas são reais. O nosso medo explica por que, durante tantos anos, os indivíduos que experimentavam fenômenos misteriosos — sincronicidade, intuição, sonhos proféticos, percepções extra-sensoriais, experiências no limiar da morte, contato com anjos, e
tudo mais —, que sempre ocorreram na existência humana e até continuavam na era moderna, eram tratados com tanto ceticismo. Falar sobre essas coisas, ou até mesmo admitir que elas eram possíveis, colocava em risco a nossa teoria de que o mundo material era tudo que existia.

VIVENDO UM PRESENTE MAIS LONGO

Podemos ver, portanto, que a percepção da sincronicidade em nossa vida representa nada menos que um despertar coletivo da visão materialista do mundo, que durou séculos. Agora, quando contemplamos a existência moderna com suas maravilhas tecnológicas, podemos ver este mundo a partir de um ponto de vista psicológico mais revelador.

Com a decadência da Idade Média, perdemos a sensação de certeza a respeito de quem éramos e o que significava a nossa existência; assim, inventamos um método científico de pesquisa e o encarregamos de descobrir a verdade da nossa situação. Mas a ciência parecia fragmentar-se em mil faces, incapaz de trazer de volta de imediato uma imagem coerente.

Como reação, afastamos a ansiedade voltando o nosso enfoque para iniciativas práticas, reduzimos a vida a seus aspectos econômicos e finalmente entramos numa obsessão coletiva, com os aspectos prosaicos e materiais da vida. Como vimos, os cientistas apresentaram uma visão do mundo que reforçou essa obsessão e, durante muitos séculos, eles próprios ficaram perdidos dentro dela. O preço dessa cosmologia limitada foi o estreitamento da experiência humana e a repressão da nossa percepção espiritual mais elevada — uma repressão que agora estamos finalmente vencendo.

O desafio é nos esforçarmos sempre para manter na consciência essa maneira de ver a História, especialmente quando o materialismo, ainda influente, tenta nos atrair de volta para
a antiga visão. Temos que ter em mente onde estamos, a verdade da era moderna, e fazer disso parte de todos os momentos da nossa vida — pois é a partir dessa sensação intensificada de estarmos vivos que podemos nos abrir para o próximo passo da nossa viagem.

Quando olhamos com um olhar novo, vemos que a ciência não fracassou por completo; sempre houve na ciência uma corrente subjacente que silenciosamente ultrapassava a obsessão material. A começar nas primeiras décadas do século XX, uma nova maneira de pensar começou a formar uma descrição mais completa do universo e de nós mesmos — uma descrição que finalmente está abrindo caminho para a consciência popular.

A Visão Celestina - James Redfield

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